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"NPC Performance" - Jornal O Estado de São
Paulo - Ed. 643 - Fevereiro/2004
Mercado de chips cresce aceleradamente nos EUA
O Estado De S. Paulo
Fanáticos por velocidade alimentam o segmento, que
já bate
na casa dos US$ 20 milhões por ano.
por Jim Montavalli
The New York Times
Quando Scott Farrell, um instrutor da Guarda
Costeira de Newport News, Virginia (EUA), quis dar um
grande impulso na potência do seu Volkswagen Jetta
TDI, ele não baixou a suspensão, não
instalou um novo comando de válvulas, nem acrescentou
um escapamento dimensionado. Em vez disso, mandou instalar
uma peça eletrônica do tamanho de um selo
- o chamado "chip de potência", que
se destina a reprogramar o módulo de controle
da injeção eletrônica do carro para
dar maior potência. "Foi uma diferença
da noite para o dia", disse. Farrell é apenas
mais um entre o crescente número de proprietários
de automóveis que estão usando chips reprogramados
em softwares de computador para obter um melhor desempenho
em seus veículos.
Os sistemas de remapeamento de chips se sobrepõem
aos ajustes originais de fábrica e tiram vantagem da gasolina de alta
octanagem.
Isso geralmente permite um timing avançado, maior potência
e às vezes até melhor quilometragem. Steve Dinan,
fundador da Dinan Engineering, fabricante de peças de
alto desempenho para carros BMW, disse que atualmente vende
mais de US$ 1 milhão em chips por ano - uma parcela significativa
de um mercado que ele estima que seja de US$ 20 milhões.
Mas hackear o cérebro eletrônico do seu carro
nem sempre é tão fácil como parece. Instalar um novo chip pode ser uma tarefa desanimadora
para o proprietário que tenta fazer isso sozinho. Técnicos
de oficinas dos EUA dizem que estão encontrando mais
carros com motores fundidos, em parte por causa dos chips
reprogramados que, às vezes, distribuem combustível
em excesso e permitem que a pressão do turbo exceda
os limites recomendados pelo fabricante. E, mesmo que o motor
pareça estar funcionando melhor, pode estar trabalhando
de forma mais suja e talvez não passe em alguns testes
de emissão de gases em alguns Estados.
Spencer Cox, proprietário da Speedsport Tuning, em
Norwalk (EUA), contou que, recentemente, rebocou um Porsche 944 Turbo com um estrago
no motor no valor de US$ 7 mil. O dono tinha "comprado um chip e
outros dispositivos de performance pela internet e instalado ele mesmo",
diz Cox. "Durante uma semana, ele esteve todo sorridente
porque tinha ganho 40 cavalos (cv) de potência. Mas tudo explodiu. Isso acontece o tempo todo."
E mexer no motor pode fazer com que a garantia do veículo perca a validade,
o que resulta que as altas despesas do conserto fiquem a cargo do dono.
Até o final da década de 1970, a mistura de
combustível e ar do carro era regulada pelo carburador, um dispositivo relativamente simples
tão antigo quanto o próprio automóvel. Mas os sistemas
de injeção de combustível atuais, cada vez mais, são controlados por poderosos
computadores de bordo que regulam a eficiência da combustão, comandam
a economia de combustível e regulam as emissões de acordo com os padrões
estaduais e federais. Na maioria dos casos, no ajuste do computador do veículo
as montadoras optam por regulagens conservadoras que permitirão rodar mais
quilômetros por litro de gasolina e a diminuição de problemas
de manutenção, mas nem sempre oferecem o desempenho no limite máximo que os proprietários
desejam. Isso torna os chips uma presa fácil para os hackers
equipados com laptops e empresários de internet que prometem "pôr
o aumento de potência e de torque ao alcance dos seus dedos", como descreve a DiabloSport
Predator.
Com preço variando entre US$ 200 e US$ 500, esses
mecanismos incluem chips do tipo instale-você-mesmo,
engenhocas manuais que permitem que os donos mexam no dial,
ajustando para suas especificações preferidas,
e façam downloads de softwares para ganho de potência.
Talvez, inevitavelmente, a cultura hacker dos computadores
tenha também produzido os hackers automotivos, que compram chips legítimos
de fabricantes e depois copiam a programação em chips em branco,
vendendo os resultados com grandes descontos. Brincar de técnico eletrônico
não é necessariamente para novatos.
Para obter um melhor desempenho de seu BMW 325i, Chris Cagnolatti,
da Califórnia (EUA), pagou US$ 125 por um chip Active
Autowerke, depois passou "dois dias e duas noites estressantes
de sangue, suor e lágrimas trabalhando num módulo
de computador de US$ 1 mil até mandar instalá-lo".
O resultado: excelente desempenho, disse ele, embora não
saiba o grau real do seu ganho de potência.
Ainda não satisfeito, Cagnolatti chega agora no seu
terceiro pacote de software e está de olho num dispositivo
para carros BMW que é plugado na entrada do aparelho
de diagnóstico do carro. "O software é
baixado em menos de 1 minuto."
Para combater a pirataria, muitas montadoras estão
usando chips codificados em novos modelos ou, como fez a Toyota,
acabaram com os chips de memória removíveis.
Isso fez com que os técnicos mudassem suas estratégias,
como o descarregamento de novos softwares diretamente no drive do
computador, incluindo dispositivos eletrônicos específicos
que pegam carona no módulo de controle original de fábrica e se sobrepõem
a ele. Alguns desses dispositivos alteram o mecanismo que
impede o motor de ultrapassar a linha vermelha ou retiram
o regulador de velocidade que limita o desempenho máximo.
Don Jolley, gerente de produção da Bully Dog
Technologies, em Aberdeen, que fabrica peças para elevar o desempenho de caminhões
(e vende mais de 1 mil chips por mês), compara alguns mecânicos superentusiasmados
aos músicos de rock que compram amplificadores feitos sob encomenda porque
querem ir até 11 em vez dos 10 usuais. Acham que um pouco mais de potência
é bom, mas muito mais potência deve ser ótimo",
disse Jolley. Depois, há a questão da garantia.
"Não defendemos o uso de componentes fabricados
por terceiros como chips de desempenho porque isso significa
perder o controle do processo", diz Kevin McCormick,
gerente de vendas e comunicações de serviço
da DaimlerChrysler. "Não conhecemos os padrões usados por esses outros fabricantes na construção
de seus produtos."
De fato, alguns aficionados pelo desempenho adotam a atitude
"não pergunte, não conte" no que se refere a suas garantias
e reinstalam o equipamento de fábrica antes de cada
visita ao revendedor. Outros esperam até a garantia
estar perto de vencer para mudar os chips. "Isso certamente gera uma preocupação com
carros novos", disse Shaun
Blanco, gerente de alto desempenho da Newins Bayshore Ford
em Bay Shore, N.Y.
"Será que você quer mesmo pagar US$ 25 mil
por um Mustang novo, que vem com uma garantia de três
anos, 59 mil km de pára-choque a pára-choque
e correr o risco de a Ford abandonar você?" Mas algumas lojas
de chips dão garantia própria.
Peter Cheuk é um técnico de computador da Califórnia,
portanto instalar seu chip Upsolute não foi nenhuma
grande dificuldade. Ele ganhou 19 cv de potência e 70
libras-pé de torque no seu Jetta TDI turbodiesel de
potência modesta. Mesmo assim, ele ainda planeja voltar
ao chip original. "Como ando a uma velocidade mais alta,
perdi 16 km por galão em economia de combustível e, o que é pior, agora o carro solta uma nuvem de fumaça
preta. Se não fosse pela fumaça, eu estaria
contente com ele", acrescentou.
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