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"Renovação de estilos" - Revista FullPower - Ed. 57 - Janeiro/2007.
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Renovação de estilos
Contrariando as especulações, o tuning não morreu! Ele é, na verdade, parte de um movimento em constante reciclagem.
Por Péricles Malheiros Fotos por João Mantovani
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Cinco anos atrás, FULLPOWER estreava nas bancas: o termo tuning já estava lá, na capa da primeira edição, bem como em suas páginas. O tempo passou, o mercado de personalização cresceu, novas vertentes surgiram e hoje o marcado se pergunta: o tuning está mesmo na UTI, prestes a morrer? Definitivamente, não!
Cheguei à redação da FULLPOWER em 2002, quando a equipe ainda estava em formação. Por gosto pessoal, acabei virando o "cara do tuning" na revista - a maioria dos profissionais daqui sempre foi alucinada por performance. Óbvio que logo comecei a ser "zuado" por preparadores e amantes de cavalaria pura. "Atenção, base! O responsável pelas naves mais iluminadas do Brasil, se aproxima", brincava Amir Efraim, dono da Dynojet do Brasil, referindo-se aos modelos que "flutuavam" sobre luzes de neon. Pois é, a maioria das pessoas que curte potência gosta de "levar uma"com os fãs de tuning. Mas o império contra-ataca e torna a recíproca verdadeira: "Muito legal ter um carro de 2000 cavalos para andar no dia-a-dia. Amo desconforto e gastos com manutenção. E o prazer de acelerar nesse nosso asfalto todo arrebentado, então...", ironiza Alexandre Pohlmann, seguidor confeso de tuning. Brincadeiras e provocações são comuns entre todas as tribos.
Mas os próprios preparadores reconhecem os méritos do tuning. "O movimento aumentou absurdamente na minha oficina e tenho certeza que muita gente que hoje gosta de motores nervosos, já teve um carro tunado. Não tenho medo de errar quando digo que o tuning alavancou o mercado de preparação", reconhece Fábio Reolon, da preparadora NPC Performance. Rofrigo Corbisier, da G&R, outra casa famosa pro desenvolve canhões de rua, vai além: "Todos os meus projetos têm um toque de tuning. Trabalho com performance, sim, mas sempre me preocupo com o visual também".
Nesses cinco anos, FULLPOWER viu nascer no Brasil e no mundo várias vertentes da arte de equipar carro. O prórpio tuning ganhou duas correntes: street tuning e extreme tuning. Os primeiros são representados por carros com visual marcante, mas sem a aplicação de muitos acessórios e ainda dispensam acessórios e tranformações na funilaria. Um bom exemplo disso é o Chevrolet Prisma, cuja matéria você acompanha na revista deste mês. Há, também, nesta edição, um legítimo representante do movimento pró extreme tuning, o Golf do empresário Édson Dore. Ele faz parte de um grupo cada vez menor: o de particulares com carros absurdamente equipados. Se ele passa vergonha por andar com um carro assim? "Por que eu passaria? Em eventos, só dá meu carro e eu pouco me importo com quem não gosta dele. Fiz um projeto para mim, não para os outros", detona o dono de um dos carros mais incrivelmente coloridos e equipados do Brasil - e quiçá do mundo! No X-Treme 2006 foi possível comprovar as palavras de Dore: uma muvuca rodeou o Golfão transformer durante os quatro dias do evento. Ironicamente, a mostra também exigiu alguns representantes do DUB, estilo que hoje está no lado alto da gangorra que divide com o tuning.
Marcos Rainha, da paulistana Marcant DUB, conta: "Antes a loja era um autocenter comum. Com o passar do tempo, notei que o mercado estava indo mais pro lado do DUB e adotei o estilo como foco principal da empresa, afinal, sistema multimídia, rodas e pneus grandes sempre foram o nosso forte". O empresário complementa: "Agora, vamos abrir uma filial num bairo nobre da capital para ficarmos mais próximos da nossa clientela e firmar de vez o estilo como a especialidade da casa". Rainha tem visão estratégica: o DUB "de raiz" pede além de um carrão de luxo (utilitário, de preferência), poucos e nobres acessórios, como couro de marcas famosas de alta costura e sistemas multimídia ultrasofisticados. Mas é no uso de rodas de aros gigantes que o mundo DUB gira.
Cassiano Colla, da CNC Tuning, importadora das principais marcas de rodas gringas do mundo, tem uma visão particular da ascensão do DUB frente à derrocada do tuning. "Estamos vendendo cada vez mais rodas cromadas e grandes e o estilo delas nos permite saber que serão destinadas a projetos DUB ou custom". Foram os cantores de rap e os jogadores de basquete norte-americanos os idealizadores do DUB. Após o sucesso e enriquecimento repentinos, eles buscaram mostrar a virada de suas vidas com muita ostentação - das roupas de grife aos carros caríssimos. A história de cravejar o interior do carro até as rodas com diamantes deu origem ao movimento bling bling, em alusão ao som de moedas, de riqueza. Há também a moda Donk, com sedãs antigos com certo luxo e suspensão estilo big foot para comportar rodas de tamanhos monstruosos. Vale lembrar que ainda existe o movimento VIP Style, muito difundido no Japão e similar ao DUB norte-americano, porém restrito aos sedãs de luxo com rodas grandes, suspensão radicalmente rebaixada e um kit aero light
Mas se você tem um carro antigo e está na pilha para fazê-lo pular com um sistema de suspensão hidráulica, prepare-se para casar com o estilo: os amantes do lowrider costumam "excluir da turma" os que ficam em cima do muro, fazendo uma salada mista de estilos. Corre a lenda urbana de que as oficinas de lowrider brasileiras odeiam aparecer na mídia, exatamente para evitar a massificação da cultura e do estilo de vida da tribo. "Pode descarregar um caminhão de dinhero na minha oficina, se eu perceber que o magnata não tem a ver com a filosofia lowrider, não aceito o trabalho", teria dito um pofissional de São Paulo. Revistas americanas dão conta de que tudo começou quando os latinos discriminados nos Estados Unidos pereceberam que seus carros chamavam a atenção dos ricos ao andar com a traseira arriada por transportar mudanças inteiras de uma só vez.
Ainda na praia dos antigos, alguns nomes ganharam destaque nos últimos anos - na verdade, reforçando sobrenomes importantíssimos no Brasil. É o caso, por exemplo, de Fernando "Batistinha", filho de Luís Francisco Baptista, o "Seu Batista". Fernando deu continuidade à fama de grande restaurador de clássicos conquistada por seu pai. Batistinha é quem assina projetos famosos, como a réplica do Mustang Eleanor do filme "60 segundos", capa da FULLPOWER 25. O curioso é notar que a paulistana Batistinha Garage é uma ofcina capaz de imprimir seu estilo mesmo em projetos street tuning: "Observe o Prisma e o Vectra que montei a pedido da GM. Eu os classifico como modelos zero-quilômetro customizados, não como street tuning", posiciona-se Fernando. Ele faz questão de ressaltar: "Devo ao meu pai tudo o que sou. Se hoje sou reconhecido como um bom customizador é porque cresci num ambiente profissional com rigor máximo de criatividade, bom gosto e controle de qualidade".
Um pouco mais ao sul do país, em Curitba (PR), está a oficina Totty's Hot Toys. De lá, fala ao "vivo" Rafael Glaser: "Eu também herdei do meu pai essa paixão por carros. Como engenheiro e construtor de bólidos de pista desde os anos 50, ele adquiriu um know-how fabuloso, e, com o tempo, acabei absorvendo isso". Apesar desse amor pela transformação, Rafa vibra ao confessar sua predileção pela construção propriamente dita: "esse é o grande barato dos hot rods e dos customs, fazer tudo na raça, evitando ao máximo utilização de peças prontas. Isso é personalização". Ambos os estilos confundem-se - e fundem-se! Por definição, um hot rod data dos anos 20 e 30 e mostra pára-lamas destacados da carroceria e motor violento. Os customs sucederam os hot rods e fizeram tanto sucesso nos anos 40 e 50 que o nome customização virou sinônimo de "personalização discreta", sem exagero de formas e proporções.
Outra tribo forte dos supersonorizados. Pouca gente sem lembra, mas antes da explosão do tuning, os carros com megaprojetos de som eram a sensação do mercado. Esta é uma prova de que os estilos se reciclam, se revezam, se renovam. Pense bem: da mesma maneira que o DUB está esfriando o tuning, algum estilo, (já conhecido ou que ainda irá nascer) irá substituí-lo. E, assim como o som foi resfriado pelo tuning e permanece vivo e saudável até hoje, o tuning definitivamente continuará na ativa por muito tempo. Willy Leandrini compartilha do pensamento e acrescenta: "A Leandrini sempre foi uma loja atenta a essa característica cíclica do mercado. Por esse motivo que sempre demos aos nossos clientes a possibilidade de equipar o carro todo". Willy também fala de estratégia de ação: "O duro é não cair na ganância de fazer tudo e ainda vender batata frita. Sempre tivemos um estilo para tudo. Um tunado, um sonorizado ou um DUB na Leandrini carrega o nosso jeito de equipar. E isso não vai mudar nunca".
Nos Estados Unidos e na Europa, a sigla ICE (de In Car Entertainment) denomina a praia de quem gosta de tecnologia embarcada - não apenas som e multimídia, mas dispositivos como GPS, comando de voz e games. Verdadeiras salas da Nasa sobre rodas são expostas em eventos do gênero.
Lívio Shiguemi, da fabricante de acessórios Shutt, faz uma análise plausível do mercado: "A personalização do interior do carro é como a sonorização. Tem seus altos e baixos, mas nunca morre. De qualquer maneira, estar atento ao estilo que está ditando a regra em cada momento pode ser a diferença entre a vida e a morte para uma empresa do ramo". A visão de Shiguemi condiz com alguns acessórios: neon e adesivos, por exemplo, são adereços praticamente extintos, pois são itens chamativos, portanto incoerentes com o perfil cada vez mais discreto do tuning no Brasil.
Finalizando a lista compactada dos "dialetos" da personalização, chegamos aos rastejantes carros rebaixados. Os puristas defendem a tese de que o verdadeiro "socado" deve dispensar os kits de suspnsão a ar. "Tem que ser fixa ou, no máximo, com regulagem de altura por rosca", diz Wagner dos Santos, da Fênix Suspensões.
Para acompanhar as mudanças constantes do mercado, FULLPOWER jamais empunhou a bandeira de um único estilo. Não somos uma revista de tuning, de DUB, de som ou mesmo de originais. FULLPOWER é uma revista "de tudo" feita para quem gosta de carros modificados ou não - independentemente do estilo ou do momento.
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