Não é preciso muito para perceber que o novo Fusca é inspirado no clássico Fusquinha. Painel, linhas da carroceria, ponteiras de escape e até os "estribos" laterais do modelo renascido são similares aos do maior clássico de todos os tempos. Mas, quando se trata de potência, a nova mecânica (motor 2.0 TSi de Jetta e Tiguan) já começa agressiva: 200 cv e 28,5 kgfm de torque.
Assim, para compararmos as gerações de igual para igual, reunimos um modelo 2013, preparado pela NPC Performance, e um 1995 (o carro ganhou o apelido de Itamar por ter sido recolocado em produção no Brasil durante o mandato do ex-presidente Itamar Franco) íntegro, turbinado pela Concept Car, especialista em motores boxer refrigerados a ar.
Até as personalizações coincidiram: nos estribos laterais, os frisos metálicos sumiram, com pintura nos do Itamar e adesivo (preto) no modelo 2013. Retrovisores pretos e interior com bancos de couro eram outras "coincidências" entre os dois.
"O painel deste Fusca 1995 é dos Porsche 914", apontou Anselmo Heck, um dos sócios da Concept Car. Ele ainda acrescentou que, para o manômetro de combustível funcionar corretamente, foi preciso adotar uma bomba elétrica. Os trabalhos foram executados pela Evolusom, de Guarulhos (SP).
O NOVO
E, por falar em manômetro, o novo Fusca também é equipado com um, que fica acima do painel. Ele serve para monitorar o turbo, que vem de fábrica. Ao lado, um cronômetro e um termômetro de óleo compõem o quadro de instrumentos e aumenta a esportividade do carro.
O motor 2.0 TSi é ligado por um botão, ao lado da alavanca de câmbio. E não tem mais o barulho original. "Fizemos um novo escape de inox, com downpipe idêntico ao dos Jetta e catalisador de alta performance", conta Fábio Reolon, da NPC Performance. O ronco é mais grosso e, a cada acelerada, nota-se o som modificado da admissão de ar. "Instalamos um sistema de filtro de ar por indução, da VW Racing. Esse conjunto é desenvolvido em parceria com a APR e encaixa no Fusca sem exigir adaptações", garante Reolon.
E é dessa preparadora que vem o programa para a injeção do Fusca. "Apesar de ser praticamente a mesma injeção do Jetta, a APR fornece informações exclusivas ao Fusca", salienta o preparador. Com o novo programa, instalado em um único dia de trabalho, as vantagens são muitas. A começar pela gama de funções do sistema: é possível selecionar modo original, gasolina comum, gasolina podium e manobrista -- essa última limita a rotação do motor.
Além de todas essas características, ele ainda desbloqueia o limitador de velocidade (passa dos 220 km/h para 260 km/h) e desabilita o controle de tração, permanente no Volkswagen. "Se enfiar o pé no acelerador, lixa a primeira marcha inteira e boa parte da segunda", garantiu Reolon, tratando da nova "atitude" do carro.
Segundo ele, essa receita garante cerca de 60 cv e faz parte do estágio 2 da APR, que inclui a alteração do escape. Há, ainda, o nível 1, que envolve apenas reprogramação e adiciona 40 cv; o nível três, com a troca do turbo por um KKK K06 (e mais 140 cv); e o estágio 4: nessa, um turbo Garret GT 2860 RS roletado entra em ação e soma à potência original do Fusca uma média de 210 cv (chegando a 410 cv).
O carro ainda recebeu acessórios esportivos, como adesivo preto brilhante em parte do teto (próximo ao vidro traseiro), molas H&R e rodas de 20 polegadas, réplicas do modelo utilizado no Audi R8 GT Spyder -- protegidas por pneus 225/35.
A GRAÇA DE ITAMAR
Já no Volkswagen de 1995, as mudanças são mais profundas, inclusive na parte mecânica. Começando pelo kit turbo, adquirido na Restaurakar Racing Parts. Aplicado sobre um motor 1.600 a ar, com aproximadamente 40 mil km rodados, o conjunto aproveitou o par de carburadores Solex original, agora com alto desempenho.
Segundo Heck, "o turbo Master Power T2 está regulado com 0,8 kg de pressão e garante fortes 140 cv, já que trata-se de um carro de apenas 800 kg", lembra. Com a mesma configuração e pressão regulada em 2 kg, ele garante que a potência sobe para cerca de 200 cv, com direito a velocidade final próxima aos 200 km/h: "Esse câmbio tem a cobiçada relação de diferencial 8x31, mais longa e presente nos Fusca a partir de 1984 e nos SP2. Portanto, dá para se divertir bastante em uma pista fechada", indica.
E acelerar com o modelo é uma tarefa segura, uma vez que toda a sua estrutura foi aperfeiçoada. A começar pela suspensão, com amortecedores feitos sob medida com 40% a mais de pressão. Rodas oriundas de Porsche Boxster dão um show à parte e contribuem para a aderência: são 17"x6 na dianteira e 17"x8,5" na traseira, com pneus 205/45 e 215/45, respectivamente. "Essa customização é conhecida por 'germanlook', que ocorre na Alemanha desde a década de 1950. Lá é comum os entusiastas utilizarem componentes Porsche em VW", ressalta o preparador.
Os freios originais, segundo o especialista, são eficazes diante da receita atual. "Mais do que isso, nós recomendamos um sistema de freios dimensionado, com discos maiores também na traseira", afirma Heck. Pise no pedal do centro e apenas a porção interna da lanterna acende. Isso porque as peças são da versão exportada para os EUA, onde a legislação exige que as extremidades permaneçam iluminadas constantemente -- os piscas dianteiros também são americanos, com lâmpadas exclusivas para manter as laterais acesas o tempo todo.
Fechando o pacote de alterações visuais, o destaque deste Itamar 1995 é um emblema dos Porsche Speedster na tampa traseira e um teto solar Ragtop, que vai muito além do estilo (funcional, o acessório tem abertura muito maior do que o componente original do Fusca 2013, inclusive). Agora, a pergunta que não quer calar: se você tivesse a oportunidade de escolher um entre estes dois modelos para ter na sua garagem, qual seria?