Tempero Mineiro Conheça mais um receita mineira de sucesso, capaz de produzir mais de 600 cv no quatro cilindros de um Audi S3.   Texto Fabio Felix Pascoal Fotos João Mantonvani

O mineiro é conhecido por sua paciência e farta culinária. Neste Audi S3, ano 2002, dois irmãos de Uberlândia (MG) e o preparador, também mineiro, ensinam o "mó-difazê" um monstro de 670 cv para uso diário em exatos 60 dias de trabalho. Gustavo e Alexandre Menezes, ambos médicos anestesistas, são apaixonados por performance. Por suas mãos já passaram máquinas como Marea Turbo, Gol Turbo, BMW M3, M5, 335... "Sempre tivemos carros mexidos e o motor VW é o que mais nos impressiona. Por esse motivo, eu e o Gustavo resolvemos investir juntos em um S3", conta Alexandre Menezes.

A meta era clara: extrair 500 cv do Audi S3, um carro com tração integral, ar-condicionado e direção hidráulica. Mas tinha que rodar tranquilamente, sem trancos ou quebras. Apesar de mineiros natos, os irmãos tinham pressa, e paciência não é o forte deles! Deram 60 dias de prazo para a finalização total do projeto.

A tarefa de montar o canhão em tempo recorde (para o padrão mineiro) ficou nas mãos do competente Albert Bernardes, uma espécie de "Personal Preparador" da região de Uberlândia. "Não tenho uma oficina fixa. Cuido de projetos especiais e executo o serviço na casa dos clientes. Quando necessito de uma estrutura maior recorro a oficinas de alguns parceiros", explica Albert, que completa: "Os irmãos tinham pressa, mas, mesmo assim, achei que seria tranquilo e esperava entregar o carro em, no máximo, 45 dias. Mas adquirir peças foi muito difícil, já que a maioria sai de São Paulo e algumas dos EUA. Aí ficamos à mercê de transporte, disponibilidade em estoque e prazo de entrega".

Coletor de escapamento, escape completo e catch-tanque foram confeccionados em MG, pela No Limitis Customs. "Os mineirinhos aqui trabalham bem. Nem pense que a gente só sabe fazer pão de queijo", brinca Albert. O cabeçote, por exemplo, foi preparado em Uberlândia, com medição em banco de fluxo e tudo. Trabalho executado com maestria pelo pessoal da Rogis Cabeçotes Especiais. "Só para você ter noção do capricho com que são montados os motores aqui, no caso deste Audi, o bloco foi usinado com torque plate (uma placa presa ao bloco por meio dos prisioneiros do cabeçote). Com essa peça no lugar, o bloco é aquecido até chegar na temperatura de 75 graus. Nessa hora ele está pronto para receber a usinagem dos cilindros. É um trabalho que evita deformação", explica Albert, que reforça: "acredito que entre os grandes preparadores do Brasil, poucos tomam este tipo de cuidado na hora de usinar um bloco de motor".

O motor foi fechado e ganhou turbo, pressurização, injetores, intercooler, embreagem... Tudo perfeitamente instalado no capricho mineiro e depois enviado para a empresa paulista NPC Performance Power Chips. Lá, a central eletrônica seria programada para atender a nova configuração de motor: os tão sonhados 500 cv. Bem mais do que os 210 cv originais, "Poderíamos ter instalado uma injeção programável e inutilizar a central de fábrica, porém, o S3 é chato neste aspecto. Retirar a central original desencadeia uma série de problemas eletrônicos, o que atrapalha painel de instrumentos, tração integral... Ficam todos loucos e na hora de voltar o carro para original é ainda mais complicado. Trabalhar no módulo original deixa tudo zero e ainda é reversível", explica Alexandre.

Para Fábio Reolon, da NPC Performance Power Chips, a central Bosch Motronic ME7 é delicada de mexer. "Nesse carro, quando comecei a reprogramação, a borboleta fechava quando a pressão de turbo ultrapassava 1,3 kg, O TPS caía de 100% para 29% de uma só vez e a central entrava em estado de emergência. Em outros 'S3', mais fracos, isso não acontecia. Acredito que o turbo seja responsável por isto (Garrett GT35R), já que os roletados modernos sopram demais. Talvez essa quantidade enorme de ar tenha deixado a borboleta louca... Mas tudo acabou bem!", comemora Fábio.

E, motivos para celebrar, não faltam. Após horas e horas de trampo no dlnamômetro da NPC Performance, os cavalos mineiros apareceram com vigor. "Eu esperava 500 cavalos neste carro. Era o que nós queríamos". E essa potência apareceu logo com 1,7 kg de pressão. "Tá bão dimais, uai", vibrou Alexandre. "O Fábio chegou a enfiar 2 kg de pressão e foi aí que vieram os 670 cv. Mas preferimos deixar com apenas 1,7 kg. Para o futuro, quem sabe coloco um booster para 2 kg...", planeja Menezes.

Depois de tantas alegrias, chegou a hora de passar a régua e contabilizar o investimento no pequeno, porém poderoso, S3. "Anotei cada parafuso que foi gasto durante o projeto! Até o combustível de Uberlânáia a São Paulo para acertar a injeção estão na conta. Além do valor pago no carro, R$ 40 mil, foram consumidos mais R$ 64 mil, totalizanáo R$ 104 mil. Só de sentir o que acelera essa caranga dá para dizer que valeu cada centavo investido. Não vejo a hora de chegar em Uberlândia para mostrar a fera para o mano", comemora Menezes. No caso de emergências, o pessoal de Uberlândia pode ficar tranqüilo, pois esta dupla áe médicos promete chegar rapidinho ao hospital. "Eita trem bão, sô! Agora a ordem é acelerar e curtir!"

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